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As crianças de hoje terão emprego amanhã?

Empregabilidade Gestão de carreira

15/05/2017 - 4:31 | Publicado há 8 anos atrás

Os pequenos irmãos correm para dentro do grande tubo. Foram seus pais que os deixaram na ponta de entrada e os incentivaram a correr bastante. É assim que o início da lógica das relações de trabalho funciona para todo mundo. Mas como será o trabalho do futuro?

Assim que podemos sair de casa e conviver em grupo, nossos pais nos colocam na ponta de entrada de um tubo gigante, onde a esteira da vida nos levará a cumprir o roteiro pré-estabelecido do Modelo Mental E2A. Já apresentamos aqui no blog o estudo sobre este modelo e também o eBook gratuito.

Para começar, convido você a imaginar o grande tubo, como os túneis do metrô, por onde vai passando uma enorme esteira carregando as pessoas pelas fases da vida. A primeira fase dessa esteira metafórica é a Escola. Os pais, mães e responsáveis têm sentido a necessidade de conduzir os filhos cada vez mais cedo à escolarização. E, desde cedo, a criança é estimulada a se preocupar com a obtenção de resultados positivos, principalmente as boas notas. Quando o desempenho é ruim, há consequências.

Esse é o pensamento que acompanhará a criança pelo resto da vida: o esforço intelectual é indispensável para o sucesso. Sociólogos como o francês Émile Durkheim associam a educação ao processo de socialização da infância, concebendo-a como um “esforço contínuo para impor às crianças maneiras de ver, de sentir e de agir às quais elas não chegariam espontaneamente” (DURKHEIM, 1974, p. 5).

trabalho do futuro crianças

 

Além de formar intelectualmente, a instituição de ensino condiciona as crianças ao padrão de vida de trabalho pré-estabelecido. A pesquisadora Fernanda Müeller, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizou um estudo com estudantes de 6 a 12 anos de idade para apreender a percepção deles sobre a escolarização. Os participantes demonstraram achar necessário “estudar para ser alguém na vida”. Eles associaram isso a outros fatores, como comportar-se, obedecer, não falar palavrão e não incomodar a professora durante as aulas.

Essa pesquisa ajuda a compreender o condicionamento ao qual as pessoas são submetidas já no ensino infantil. Uma das crianças do estudo, aos 9 anos, já apresenta efeitos do modelo mental: “Jéssica¹ afirma que, embora sua rotina seja cansativa, uma futura boa colocação no mercado de trabalho dependerá desse esforço” (p. 132). Sobre isso, Müeller afirma que “a escola aparece relacionada ao futuro, como se o presente fosse um tempo de infinita espera” (p. 132). Acrescento que a espera pelo final da primeira fase do tubo não leva menos do que 18 anos.

Na adolescência, fase de mudanças tanto biológicas quanto sociais, o indivíduo carrega inúmeras incertezas. É o processo de formação de sua identidade. Em meio a todos esses fatores, a esteira da vida o encaminha para a próxima fase, em que existe a pressão de encontrar um rumo após o fim do ensino médio: uma profissão e/ou um curso superior que definirá a futura profissão.

Os anos de estudo da fase escolar servem de preparação para que o indivíduo seja produtivo para a sociedade. Porém, as estatísticas mostram taxas de desemprego em todos os níveis de escolaridade, principalmente entre os recém-formados. Logo, a qualificação profissional não é mais garantia de emprego formal. Não na lógica de trabalho do futuro.

Em meio à crise econômica o medo também encontra os profissionais mais velhos e com mais experiência. Eles temem a demissão e a dificuldade de se recolocar no mercado caso isso aconteça. O futuro do trabalho será desafiante para todos, independentemente da idade.

Outros fatores também indicam a necessidade de se repensar o mundo do trabalho dentro das novas lógicas econômicas. São as pandemias globais de depressão, obesidade e hipertensão, transtornos de ansiedade e demais problemas psicológicos. Essas doenças são os custos, em parte, da alta concorrência profissional estabelecida devido à escassez das vagas formais de emprego.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é recordista mundial em prevalência de transtornos de ansiedade. Os dados apontam que 18,6 milhões de brasileiros sofrem com o problema. É possível afirmar que fatores como o medo do desemprego, o stress no ambiente de trabalho e a falta de objetivo pessoal e profissional podem desencadear o transtorno.

Após um período de trabalho com duração de 30 a 40 anos, a esteira do tubo leva o indivíduo até a aposentadoria. O trabalho assalariado pode ser muito desgastante, tanto física como emocionalmente. Tal desgaste é mais difícil de ser suportado com a idade. Por isso, durante a fase do emprego, o trabalhador faz um pagamento, normalmente mensal. É como um seguro, para garantir que terá renda para se sustentar sem trabalhar durante a melhor idade. No Brasil, essa gestão é feita pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

O avanço da medicina e da qualidade de vida dos indivíduos resultou no aumento da expectativa de vida da população. Esses fatores contribuíram para que os gastos previdenciários crescessem continuamente a partir de 1994. Nakahodo e Savoia apontam que, a partir de então, foram feitas reformas paramétricas. Estas, “contribuíram para reduzir o problema fiscal no curto-prazo, mas não serão capazes de impedir o aprofundamento do déficit no longo prazo” (Nakahodo e Savoia, p. 46). Desde então os governos trataram do tema na tentativa de equacionar um sistema bastante deficitário, mas não obtiveram sucesso. O valor acumulado pelos pagantes da previdência tem se tornado insuficiente para sustentar a todos os contribuintes. É mais um ponto que será bem diferente no trabalho do futuro.

Esse modelo funcionou durante muito tempo. E é claro que a escola, o desenvolvimento profissional e a aposentadoria são importantes. Mas colocar as crianças para dentro do tubo sabendo que ele não é mais a garantia de um futuro de sucesso é insuficiente. Afinal, o futuro do trabalho trará desafios diferentes. É injusto com as crianças de hoje insistir num modelo que está dando sinais de esgotamento a cada dia.

Como será o trabalho do futuro?

Será que o modelo E2A continuará se sustentando com a escassez de emprego formal, a automatização e as futuras mudanças da nova economia (era da informação)? Como se reinventar profissionalmente para viver essa nova realidade? No próximo artigo veremos o porquê de o modelo Escola > Emprego > Aposentadoria ser considerado um modelo mental.

Este é o terceiro artigo de uma série de 6. O primeiro e o segundo estão disponíveis aqui no blog. Aproveite para se cadastrar no blog e ficar sempre atualizado, curtir a nossa página no Facebook e seguir a gente no Instagram. Fique de olho nos próximos artigos.

Até lá!

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Por Enes Vilela, coach e executivo de Recursos Humanos. Fundador do blog Carreira & Felicidade e da empresa Rede Especialista, lida há 20 anos com gestão de carreira e atuou na formação de mais de oito mil trabalhadores.

REFERÊNCIAS

DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Nacional, 1974.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil: http://www.observatoriodopne.org.br/metas-pne/2-ensino-fundamental/indicadores

MÜLLER, Fernanda. Socialização na escola: transições, aprendizagem e amizade na visão das crianças. Educar, Curitiba, n. 32, p. 123-141, 2008. Editora UFPR. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/er/n32/n32a10.pdf.

NAKAHODO, Sidney N.; SAVOIA, José Roberto. A Reforma da Previdência no Brasil. Revista Brasileira de Ciências Sociais – vol. 23 nº. 66: 2008.

WHO, World Health Organization. Depression: Let’s Talk. 2017. Disponível em http://www.who.int/campaigns/world-health-day/2017/en/ , acesso em 9 de maio de 2017.
NOTAS

¹ Criança participante do estudo da referida pesquisadora: 9 anos, 6ª série do ensino fundamental, escola pública estadual.

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