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Modelo mental: o comportamento coletivo no comando

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24/05/2017 - 9:07 | Publicado há 7 anos atrás

Você afirmaria, com certeza, ser incapaz de matar uma pessoa? Sua resposta tem tudo a ver com o conceito de modelo mental.

Eu afirmaria, se não conhecesse a famosa história das bruxas de Salém. Existe até um filme que narra os episódios ocorridos em 1962, em Salém, Massachusetts (EUA). Tudo começou quando duas meninas da cidade começaram a apresentar comportamentos estranhos. Elas se contorciam, gritavam, faziam sons estranhos e arremessavam objetos. O diagnóstico do médico foi que elas estavam sob influência de eventos sobrenaturais. As meninas acusaram três mulheres pobres de bruxaria, e as três acabaram presas.

A partir de então começou a surgir um grande número de acusações de bruxaria, principalmente contra mulheres. Mais de 150 pessoas foram presas e 20 chegaram a ser executadas por causa das falsas alegações. Mais tarde, o próprio juiz responsável pelos casos assumiu a injustiça em suas sentenças. Os comportamentos estranhos que iniciaram toda a caça às bruxas foram causados, na verdade, pela intoxicação alimentar advinda de uma planta alucinógena.

bruxa

 

Como esse tipo de coisa acontece e porque a sociedade é do jeito que é? Aprendemos a ver o mundo de certa forma, a partir das construções sociais que nos são apresentadas ao longo da vida. A construção social é a internalização da sociedade pelo indivíduo. E foi a internalização radical da visão cristã puritana que levou à morte e prisão injusta daquelas pessoas em Salém. Conforme a doutora em Educação Josiane Magalhães:

“[…] na medida em que o indivíduo se socializa, assume internamente as condições concretas da sociedade que passarão a fazer parte de seu eu. É por conta dessa interiorização da sociedade, através das representações em seu eu, agora constitutivo de si, que se pode conceber que o indivíduo, uma vez socializado, carregará consigo sua existência social” (MAGALHÃES, p. 231).

O modelo mental é o norte que guiará o ser humano. É algo que ele vai construindo e adaptando com o tempo, a partir da leitura que faz daquilo que lhe é apresentado. Por exemplo: aprendemos que comer doce demais faz mal, e sentimos culpa quando repetimos a sobremesa, não é mesmo? É a adaptação que fizemos do modelo mental “não coma muito doce!”.

No segundo artigo dessa série, falamos sobre como a mente funciona no piloto automático a maior parte do tempo. Fazemos as coisas de forma mecânica, sem nos concentrar de verdade ou refletir sobre o que e por que estamos fazendo. No entanto, o piloto automático nem sempre nos dominou. As crianças exploram o mundo e sempre querem saber o porquê das coisas: o modelo mental ainda não as domina. Mas a socialização é responsável por encaixá-las em moldes prontos. De acordo com Zucchetti e Bergamaschi, a instituição da escola serviu para padronizar o comportamento das crianças:

“O advento da República e os processos de industrialização impuseram novas formas de tratar a infância, principalmente nos centros urbanos: não mais as famílias responsáveis pela educação, mas as escolas, a fim de instaurar comportamentos padronizados. A escola passa a ser um lugar obrigatório, direito-dever de todas as famílias, pelo menos no que dizem as leis” (ZUCCHETTI e BERGAMASCHI, p. 219).

Somos fruto da nossa socialização. É por isso que o modelo mental E2A está tão arraigado dentro do nosso cérebro. E também porque é um modelo que funcionou por muito tempo. Mas, ainda que o exemplo soe radical ou exagerado, ouso lembrar que a monarquia também funcionou por muito tempo, mas em um determinado momento o sistema ruiu, para se construir algo novo.

Ao longo da história o ser humano foi capaz de se reinventar e transformar as coisas para melhor. Eu acredito na capacidade que temos de desconstruir as coisas e reconstruí-las de uma forma positiva. E sobre a nossa atual necessidade de reinvenção diante das mudanças do mercado de trabalho, Magalhães escreveu de forma muito acertada:

“Quando se torna desnecessário ao processo produtivo, haja vista que as inovações tecnológicas impulsionadas pelo processo de globalização o tornaram descartável, esse indivíduo é demitido e passa a fazer parte de um outro grupo: os desempregados. Configura-se para ele uma situação de crise. As rotinas a que estava acostumado já não lhe servem de sustentação para sua realidade. Em contato com outros indivíduos na mesma situação (como ocorre nos grupos em que surgem as experiências de autogestão), passam a dialogar sobre o que irão fazer de suas vidas, passam a reconstruir suas realidades e ampliar suas perspectivas e visões de mundo. Isto ocorre, principalmente, porque não há mais processos rotineiros e há o grupo nas mesmas condições de crise dialogando sobre suas crises pessoais. Neste ponto, os processos de identificação são retomados e há a possibilidade do início de um processo de construção de uma consciência crítica” (MAGALHÃES, p. 233).

É hora de mudar o modelo mental?

Um modelo mental geralmente funciona para vários tipos de pessoas, se encaixam em vários tipos de realidades. Mas é necessário ter a possibilidade de mudança, de fugir à regra e fazer algo que seja melhor para você. Afinal, quando os modelos mentais não são atualizados, nossa maneira de pensar se torna completamente irrelevante para o momento atual.

Foi através da atualização dos modelos mentais que saímos das cavernas e chegamos até aqui. A humanidade está em constante evolução. Hoje, por exemplo, estamos em processo de desconstrução de valores arcaicos como o machismo, o racismo e a homofobia. E não podemos parar!

É difícil admitir que a estrutura segura que nos foi apresentada logo na fase inicial da vida está se esgotando. E agora nós é que teremos de descobrir qual é o melhor caminho. Por isso convido você, leitor, independentemente de sua atual colocação profissional, a construir uma consciência crítica. Mesmo quando a crise passar, a realidade do mundo do trabalho como a conhecemos continuará mudando. É preciso tomar, imediatamente, uma atitude diante dessas transformações. E você, vai continuar na mesma ou vai se reinventar?

Nos próximos artigos veremos como é possível reagir diante das novas condições do mundo do trabalho e da economia. Não perca!

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Por Enes Vilela, coach e executivo de Recursos Humanos. Fundador do blog Carreira & Felicidade e da empresa Rede Especialista, lida há 20 anos com gestão de carreira e atuou na formação de mais de oito mil trabalhadores.

REFERÊNCIAS

JOHNSON-LAIRD, P. Mental models. Cambridge, MA: Harvard University Press. 513p. 1983.

MAGALHÃES, Josiane. Processos de construção sociais, movimentos auto gestionários e consciência crítica. ORG & DEMO, v.5, n.2, p.229-246, 2004.

ZUCCHETTI, Dinora T.; BERGAMASCHI, Maria A. Construções Sociais da Infância e da Juventude. Cadernos de Educação – FaE/PPGE/UFPel, Pelotas [28]: p. 213 – 234, 2007.

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