Os processos de recrutamento e seleção podem melhorar muito, mas existe algo que foge ao controle de empresas e consultorias.
O candidato fez toda a lição de casa, revisou o currículo não sei quantas vezes, treinou entrevistas, movimentou seu networking, participou de eventos e acompanhou as vagas publicadas para a sua área de atuação.
Em um determinado momento, o telefone toca. É hora da entrevista pessoal!
Outro dia, um amigo estava desanimado. Comentou ter ido a uma entrevista de emprego. Ansioso, chegou bem antes do horário marcado, a tempo de notar duas outras entrevistas antes dele. Percebeu que os candidatos ficaram mais de 40 minutos na sala.
Quando chegou a sua vez, respondeu várias perguntas e ouviu da selecionadora algumas críticas em relação a construção de sua carreira. Com pouco mais de 15 minutos foi dispensado, com o tradicional aviso de que “entraremos em contato”.
Ele saiu cabisbaixo pelas críticas recebidas e pelo tempo de entrevista bem menor. Entendeu que fora rapidamente descartado.
Tentei animar meu amigo, disse que se não desse certo agora que mantivesse a cabeça erguida para a próxima oportunidade. Mas não teve jeito. O rapaz estava inconsolável.
Antes de passar uma semana, meu amigo me ligou para contar que tinha sido aprovado naquela fase e que iria agora para a entrevista com o superior hierárquico.
Bexiga cheia
Uma coisa que a gente confunde, quando está em busca de um emprego, é que o processo seletivo – como, aliás, diz o nome – é um processo de escolha, e não o de aprovação.
Não ser escolhido em um processo seletivo pode ter inúmeras causas que fogem ao controle do candidato: o outro mora mais perto do trabalho, outro morou fora do país, etc.
Tentar adivinhar, a partir das reações do seu entrevistador, a razão pela qual não foi escolhido no processo seletivo é perda de tempo. No caso do meu amigo, bastou uma entrevista mais rápida e um comentário mais exigente em relação ao seu currículo para ele ter certeza de que tudo estaria perdido. Eu costumo dizer nessas horas, vai ver o entrevistador queria apenas ir ao banheiro.
Meus monstros e os monstros dos outros
Eu tenho medo de aranhas. Tenho um amigo que tem medo de baratas (é hilário assistir ele contando isso). Diz-se que gatos tem medo de água.
Nós não sabemos porque o entrevistador franziu o cenho quando leu seu currículo. Ou porque ele não falou muito. Ou se concentrou muito em um aspecto da sua carreira em detrimento de outros. Nós não sabemos o que está na cabeça dele ou dela.
É inútil preocupar-se com isso. Pior ainda seria perguntar, o que revelaria dificuldades para controlar a ansiedade. É muito mais produtivo se concentrar em responder bem, com convicção, o que lhe for perguntado, do que ficar tentando adivinhar o que pode estar acontecendo.
Do mesmo jeito que nós lutamos contra nossas inseguranças, o entrevistador luta contra as dele. Se estamos nervosos, tentando fazer boa figura na entrevista, o selecionador pode estar nervoso, porque seu prazo para encerrar o processo já passou.
Nós temos coisas ou situações que nos incomodam e perturbam todos os dias. Nada que façamos nos livra delas. Chamo isso de monstros. Vale a pena lembrar que o entrevistador também é gente, e tem os monstros dele.
A situação chegará perto do ideal quando você e o entrevistador estiverem conversando sobre uma função específica em determinado mercado. Com segurança, conteúdo e experiência.
Não sofra! Já passou. Agora, é se preparar para as próximas.