Gemma ainda era jovem, mas naquele tempo era comum ver as moças se casarem cedo. Descendente de alemães, rigorosos e conservadores, seus pais não escondiam o incômodo de vê-la solteira. Nas festas da igreja ou nas celebrações da cultura de seus ascendentes europeus, as danças folclóricas eram a senha para sua mãe palpitar sobre possíveis noivos. Ela fugia do assunto o quanto podia.
Suas desculpas eram que precisava estudar, ajudar a mãe a criar os muitos irmãos, bordar sob encomenda para completar o orçamento da família, cuidar da horta que abastecia a cozinha e daí por diante. Na verdade, desejava ser freira, mas sua família luterana não aprovaria a vocação religiosa da filha.
Certa noite, angustiada por sentir-se desobediente da vontade dos pais, Gemma achou que já não era possível prorrogar aquela situação e chegara a hora de tomar uma decisão. Como fazia todas as noites antes de dormir, dobrou os joelhos para rezar. Confiante na fé sempre fervorosa, pediu ajuda a Nossa Senhora, para que ela lhe enviasse um sinal sobre o que deveria fazer. Ela queria servir a Deus, pelo resto de sua vida. Mas, boa filha, não poderia desobedecer a vontade de seus pais. Parecia um caso para qual somente a intervenção divina poderia trazer solução.
Dia seguinte, como sempre fazia, saiu bem cedinho para a primeira missa. Sua casa ficava próxima à igreja. No povoado pequeno, tudo era próximo. Tinha caminhado pouco quando viu uma menina muito bonita, que escondia algo nas mãos cruzadas atrás do vestidinho branco, coberto por um grande manto azul. A moça conhecia todos por aquela região, mas não se lembrava de já ter visto aquela criança. Aproximou-se curiosa, e perguntou seu nome. A garotinha sorriu radiante e, ainda calada, revelou que atrás do vestido escondia uma enorme rosa vermelha, incomum para aquela época do ano.
– Que rosa linda! – exclamou a jovem, e voltou a perguntar o nome da menina.
Ainda sem resposta, o pequeno anjo estendeu a mão lhe oferecendo a flor. A moça estava curiosa, até mesmo preocupada. Que menina era aquela? Estaria perdida? Sua mãe deveria estar procurando por ela! Levou a mão ao peito e achou melhor se certificar:
– A rosa é para mim?
A garota confirmou com a cabeça.
– Nossa, é linda! Mas, por quê? Eu nem te conheço…
Finalmente a criança respondeu com a voz mais doce que Gemma jamais ouviria novamente, em toda a sua vida:
– Você quer? Ela pode ser sua, mas só te dou se você realmente quiser…
A moça caiu em prantos, reconhecendo no presente a resposta ao pedido que fizera a Nossa Senhora. A menina ficou ali, de pé ao seu lado, esperando pacientemente.
Instantes depois, recuperada do choro convulsivo, respondeu:
– Muito obrigada! Eu aceito com todo o meu coração! Mas, vem comigo! Vamos depositar esta rosa aos pés da imagem de Nossa Senhora da Conceição.
Foram juntas até a igreja e a futura noviça depositou a flor aos pés da santa. Depois, virou-se para a criança, queria saber seu nome… Mas já não havia mais ninguém ali.
Essa história foi contada, com a voz doce e serena da Irmã Bernardina, que passou a ser o nome religioso da jovem Gemma. Eu não sei por onde ela anda. Disseram-me que ainda está viva e segue trabalhando na carreira que escolheu.
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